27 a 31 de outubro de 2008

Comércio Exterior

Resultados
Preços de exportação e importação já caem por causa da crise
Fabricante chinesa negocia acordo no Brasil
BNDES prepara nova linha de crédito
EUA podem mudar regra para setor têxtil do Brasil no Haiti
Boicote da China contra Vale agora se torna oficial

Agronegócio

Governo pretende acelerar desoneração do agronegócio
Dólar valorizado
Commodities seguem na contramão do dólar

Mercosul

Mercosul não fecha pacto para frear protecionismo
Mercosul decide ampliar "desdolarização"
Argentina tenta conter disparada do dólar no país
Argentina vai barrar 1.200 produtos

Plano Internacional

Crise afeta mineração e gás na Bolívia
Raúl Castro deve vir ao Brasil para cúpula
Preocupada, China anuncia 2º corte da taxa no mês



Comércio Exterior

a) Resultados

O Brasil registrou déficit comercial de US$ 98 milhões na quarta semana de outubro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. As exportações entre os dias 20 e 26 somaram US$ 4,023 bilhões, e as importações, (US$ 4,121 bilhões). Este é o oitavo déficit semanal em 2008 e o primeiro desde a quarta semana de agosto.

No mês, a balança ficou com saldo positivo de US$ 776 milhões, contra US$ 3,432 bilhões verificados em igual período de 2007. As exportações no mês somam US$ 14,964 bilhões e as importações, US$ 14,188 bilhões. No acumulado do ano, o superávit comercial é de US$ 20,432 bilhões, com exportações de US$ 165,832 bilhões e importações de US$ 145,4 bilhões. De janeiro até a quarta semana de outubro de 2007, o saldo comercial era de US$ 33,589 bilhões.

A média diária das exportações na quarta semana de outubro foi 4,4% menor que a registrada no mês até a terceira semana (US$ 841,6 milhões), em função de quedas de 26% nas vendas de semimanufaturados - principalmente, celulose, açúcar em bruto, ferro-ligas, semimanufaturados de ferro e aço, couros e peles e óleo de soja em bruto - e de 3,2% em manufaturados - aviões, óleos combustíveis, laminados planos, autopeças e celulares. Os embarques de produtos básicos tiveram alta de 6,7%, que foi puxada por petróleo em bruto, farelo de soja, café em grão, fumo em folhas e carne suína.

A média diária das importações cresceu 6,4% no período, em relação à média diária até a terceira semana de outubro (US$ 774,4 milhões). Essa alta se deve, principalmente, às compras de combustíveis e lubrificantes, equipamentos mecânicos, adubos e fertilizantes, produtos siderúrgicos e plásticos.

b) Preços de exportação e importação já caem por causa da crise

A crise financeira externa exerceu os primeiros efeitos sobre os resultados da balança comercial brasileira. Em setembro, na comparação com o mês de agosto, os preços de exportação registraram queda de 2,1% e os preços de importação recuaram 0,7%, de acordo com dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Também houve retração no volume comercializado de commodities - consideradas um termômetro para medir a demanda global futura. É o caso, por exemplo, dos produtos da exportação de petróleo, cujo índice de preços de exportação apresentou queda de 14,7% e o índice de quantum teve redução de 33,5% em setembro comparado a agosto. O índice de preços de importação recuou 7% e o índice de volume, 23,6% no mesmo intervalo.

A expectativa de economistas é que os índices registrem piora em outubro, tendo em vista as quedas registradas no mercado externo. Neste mês, dentre os principais itens exportados pelo Brasil, houve queda nas cotações internacionais de açúcar (17,72%), café (16,47%), soja (15,51%), suco de laranja (10%), alumínio (20,26%), cobre (42,04%) e petróleo WTI (37,18%), segundo cálculo do Valor Data. O índice CRB, que avalia o desempenho das 24 commodities mais negociadas nas bolsas, acumula queda no mês de 25,28%.

O economista da Funcex Fernando Ribeiro observou que o efeito sobre as commodities é mais rápido, já que são o primeiro elo da cadeia e, diante da perspectiva de retração da economia, são os primeiros produtos a terem a demanda reduzida. "Mas os preços dos manufaturados também recuaram em setembro [-0,6% em relação a agosto] e certamente recuarão mais em outubro", salientou. Já os itens que têm preço definido em contrato, incluindo o minério de ferro (que é commodity), disse, apresentarão queda mais significativa no próximo ano. A redução dos volumes negociados ocorrerá no médio prazo, segundo Ribeiro. "Em 2008, o quantum importado pelo Brasil deve crescer cerca de 22% e o das exportações ficará próximo de zero", projetou.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, calcula que a média diária de exportações nos próximos meses caia para algo próximo a US$ 700 milhões, por conta da deterioração dos preços internacionais das commodities. Até agosto, a média foi de US$ 900 milhões, sendo que na segunda semana de setembro houve aumento para US$ 1 bilhão por conta do embarque de uma plataforma de petróleo. "Sem essa exportação, a média já teria caído para US$ 800 milhões, que foi o patamar observado nas semanas seguintes", afirmou.

As exportações sofreram efeito mais significativo que as importações devido à natureza dos produtos negociados, segundo Castro. "Boa parte dos itens importados são manufaturados e estão sujeitos a preços definidos em contrato, que não podem ser quebrados no curto prazo", afirmou. O efeito mais forte sobre importações será notado com mais clareza a partir do próximo ano, disse. A AEB reduziu em US$ 1 bilhão a sua projeção para o saldo da balança comercial deste ano, para US$ 23 bilhões.

O economista da RC Consultores Fábio Silveira observou que alguns itens tiveram pequena queda no volume, tanto nas importações como nas exportações (petróleo, têxteis, madeira, produtos químicos e máquinas e equipamentos) e a tendência é que haja redução nos volumes exportados no quarto trimestre. A RC projeta um saldo da balança de US$ 25 bilhões neste ano e de US$ 8 bilhões em 2009, com exportações de US$ 195 bilhões em 2008 e US$ 160 bilhões no próximo ano. "A economia internacional está enfraquecendo. O mesmo canal que permitiu ao Brasil ter uma reação a partir de 2004 levará o país a um enfraquecimento da atividade em 2009", afirmou.

As projeções da RC consideram uma queda do PIB americano de 1% e preços de commodities ainda acima da média histórica. "Se os preços voltarem aos patamares históricos, há risco de déficit na balança comercial", disse Silveira. Ele prevê ainda declínio nas importações a partir de outubro, já que, além de manufaturados, o país compra commodities que também já têm redução de preços no exterior, como aços especiais, papel, óleo diesel e produtos petroquímicos. Mas o efeito mais forte no curto prazo ainda será sobre os itens de exportação, disse o economista.

André Sacconato, economista da Tendências Consultoria Integrada, prevê retração no volume de itens exportados apenas no próximo ano e não acredita em queda das importações. "O Brasil ainda cresce acima da média de outros países, o que vai provocar redução no saldo da balança comercial", apontou. A Tendências projeta para 2009 saldo de US$ 11 bilhões na balança, ante US$ 25 bilhões neste ano, com US$ 211 bilhões em exportações (US$ 7 bilhões a mais) e alta das importações em US$ 20 bilhões, para US$ 199 bilhões.

c) Fabricante chinesa negocia acordo no Brasil

"O melhor lugar para construir uma fábrica de semicondutores é onde já existe uma fábrica de semicondutores." A frase resume a posição do consultor Eduardo Chakarian, do Monitor Group, em relação ao desenvolvimento desse setor no Brasil, principalmente quando se considera o estágio avançado de produção atingido por países asiáticos.

Na opinião dele, a fábrica de semicondutores que a Symetrix e o Grupo Damha pretendem construir em São Carlos, interior de São Paulo, só amenizará a dependência do Brasil em relação às importações se for o primeiro passo para a criação de um complexo mais amplo, que contemple formação de mão-de-obra qualificada e a instalação de outras indústrias complementares. "No caso de semicondutores, é muito difícil ter apenas uma fábrica isolada", diz. Como os investimentos exigidos são altíssimos, a escala é que torna viável a operação das indústrias.

O presidente da SMIC, Richard Chang, acredita que o Brasil pode desenvolver a indústria de semicondutores, mas defende que o primeiro passo seja a construção de fábricas de montagem e teste, um estágio anterior ao da fabricação de chips. "Começar essa indústria requer muito esforço. O melhor é iniciar montagem e teste. O processo de colocar o chip em um suporte traz muita experiência", disse.

A SMIC negocia uma parceria com o Synergy Group, empresa especializada em fazer intermediação de negócios entre os dois países. Chang planeja dar apoio tecnológico à empresa, enquanto o presidente da Synergy, Paul Ji, prevê investir US$ 30 milhões em uma fábrica de montagem de produtos com semicondutores fornecidos pela SMIC.

d) BNDES prepara nova linha de crédito

Em mais uma tentativa de contornar a queda na oferta de crédito pelos bancos privados às empresas, o governo prepara agora, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), uma linha de capital de giro para oferecer a companhias de diversos setores econômicos.

Já as empresas exportadoras que tiveram prejuízos por fazer apostas no mercado cambial poderão receber adiantamentos de parcelas de empréstimos que já tenham negociado junto ao BNDES. Essa seria uma maneira de ajudar as companhias sem, no entanto, parecer que o governo está oferecendo socorro financeiro.

Segundo a Folha apurou, a área técnica do BNDES já está detalhando como os empréstimos por meio dessa nova linha funcionariam. A oferta de mais dinheiro público seria a principal contribuição do banco de fomento para reduzir a falta de liquidez no mercado e segurar o crescimento econômico no ano que vem.

Na semana passada, o presidente Lula disse que não haverá socorro oficial a empresas quebradas. Ontem foi a vez de o ministro Guido Mantega (Fazenda) repetir o discurso. Na sexta, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que o banco quer ajudar as empresas exportadoras que sofreram perdas com o câmbio.

Coutinho não detalhou como poderiam ser feitas as operações de empréstimo, mas mencionou que muitas grandes exportadoras contam com programas de investimento no BNDES. Ele citou a possibilidade de adiantar recursos para assegurar a liquidez. Outra hipótese seria a emissão de debêntures (títulos de dívida).

Na prática, porém, qualquer liberação de dinheiro, por meio de adiantamento, compra de debêntures ou mais capital de giro, funcionará como um socorro, pois recursos poderão ser usados para quitar os prejuízos no mercado de câmbio, uma vez que não há dinheiro "carimbado".

Os empréstimos do BNDES são normalmente liberados em etapas, de acordo com o andamento dos projetos. Entre as grandes exportadoras que anunciaram prejuízos, Sadia e Aracruz têm recursos ainda a receber do banco.

A Aracruz teve um financiamento aprovado no valor de R$ 595,9 milhões em 2006. Os recursos eram destinados a aumentar a capacidade de produção da unidade industrial de Barra do Riacho.

Já a Sadia obteve empréstimo de R$ 462,5 milhões no ano passado. O montante era destinado à construção de um complexo agroindustrial, em Lucas do Rio Verde (MT), com dois frigoríficos. Em 2005, a empresa já havia tido a aprovação de outro financiamento do banco no valor de R$ 974 milhões. A decisão de liberar os recursos da nova linha de capital de giro dependerá ainda de uma avaliação mais detalhada do comportamento do crédito. Caso não veja melhora na situação ao longo de novembro, o dinheiro poderá sair ainda neste ano. A idéia, no entanto, é oferecer crédito a taxas de mercado, assim como o banco fez com a linha de financiamento para pré-embarque no começo de outubro.

e) EUA podem mudar regra para setor têxtil do Brasil no Haiti

O governo dos Estados Unidos vai fazer um esforço especial para facilitar a produção de confecções por empresas brasileiras no Haiti destinada à venda, sem tarifas, para o mercado americano, usando tecido brasileiro importado, segundo garantiram ao Itamaraty o Subsecretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon e o secretário-adjunto para Assuntos Econômicos, Energéticos e Comerciais dos EUA, Daniel Sullivan.

" Vamos analisar em detalhe a legislação e ver quanto se permite de importações, como se pode preencher as cotas, que possibilidades adicionais nossas indústrias podem recomendar, se pode requerer adicional legislação ou há possibilidade de mudanças por ato do executivo " , disse Sullivan, ao anunciar o convite para uma reunião em dezembro, destinada a discutir formas de facilitar investimentos brasileiros no Haiti, entre autoridades americanas, dos departamentos de Estado e de Comércio, o governo brasileiro e representantes do setor têxtil dos dois países.

Como informou o Valor, em agosto, a Coteminas tem planos para instalar fábricas no Haiti e já sondou possíveis parceiros locais. A empresa conta obter tratamento preferencial ao Brasil em reconhecimento do papel do país na coordenação da missão de paz no Haiti. As vendas de têxteis representam quase 70% das exportações haitianas, e o custo da confecção local é um dos mais baratos do mundo, inferior até ao da China.

Na discussão com o governo brasileiro, com consultas a representantes do setor têxtil local, ficou acertado que se buscará um acordo de reciprocidade, no qual empresas americanas também poderiam se instalar no Haiti para produzir e vender sem tarifas ao Brasil. Essa idéia dependerá, porém, de acordo com os sócios do Brasil no Mercosul, que serão convidados a participar do sistema. Segundo o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey, a adesão dos governos de Argentina, Uruguai e Paraguai na missão de paz no Haiti deve ajudar a atrair os vizinhos para a proposta.

Sullivan lembrou que a legislação existente já permite importação limitada de tecidos e insumos de terceiros países para produção de roupas destinadas a venda com tarifa zero aos EUA. O limite, no caso, é o esquema conhecido como " três para um " : para cada metro de tecido importado de terceiros países é necessário comprar três metros dos EUA ou de países com acordo de livre comércio com os Estados Unidos. A indústria brasileira quer " flexibilizar " esse critério, e tem movido um forte lobby no Congresso americano.

Shannon afirma que o Executivo americano está empenhado em atender aos pedidos brasileiros, que foram levados pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, à secretária de estado, Condoleeza Rice. As discussões precisam, porém, passar pelo crivo do Departamento de Comércio, que tem autoridade no assunto.

" Estamos procurando meios de atrair investimentos ao Haiti, e o ministro Amorim levantou a possibilidade de o Brasil fazer certos investimentos no setor têxtil " , comentou Shannon. " Essa idéia é muito criativa, muito útil e queremos encontrar meios de fazê-la funcionar " . Para Sullivan, o interesse entre democratas e republicanos pela ajuda humanitária ao Haiti fará com que o tema continue na agenda do governo dos EUA qualquer que seja o presidente eleito em novembro.

As conversas sobre o Haiti fizeram parte do terceiro encontro do " Diálogo de Parceria Econômica " entre o Itamaraty e o Departamento de Estado dos EUA, e discutiu também temas como a facilitação de ingresso de mercadorias nas alfândegas americanas, o êxito da maior abertura do mercado de aviação brasileiro a companhias dos EUA e as negociações de um acordo para evitar bitributação de empresas com atuação nos dois países.

Segundo informou Carlos Márcio Cozendey, os dois países chegaram a um acordo, com flexibilidade de regras, para contornar exigências de quebra de sigilo fiscal entre os dois governos, criticada pelo setor privado e incompatíveis com normas legais brasileiras. " Estamos preparados agora para começar a discutir como se reparte a receita de tributos " , comentou.

f) Boicote da China contra Vale agora se torna oficial

O boicote chinês ao minério de ferro da Vale agora é oficial. A agência estatal de notícias Xinhua publicou texto sobre a suspensão da importação de ferro por uma das maiores siderúrgicas locais, a Jinan, "depois da escalada de preços do fornecedor brasileiro".

Na quarta-feira, a empresa disse que suas reservas são abundantes para a demanda e que estava importando da Austrália, da Índia e do Chile.

A Vale quis reajustar em 11% o preço do minério de ferro vendido à China. Segundo a empresa, os chineses pagam 11% menos que os europeus pelo mesmo minério. A Associação de Ferro e Aço da China alega que os contratos já estavam assinados e que o reajuste é ilegal, e decidiu pelo boicote.

"A negociação já acabou e não haverá renegociação de preços tão cedo", disse à Folha o analista Hu Kai, do site Umetal.com, especialista em siderurgia chinesa. "A demanda está em queda por causa da desaceleração, há incertezas pelo mundo e há um enorme estoque; então os empresários querem renegociar e colocar o preço lá embaixo", diz.

A China tem 200 milhões de toneladas de minério de ferro em estoque. A Baosteel, maior produtora de aço do país, reduziu o preço em 40%. Além da desaceleração da construção civil, há queda nas vendas de produtos que usam o material, como automóveis (3,3%), geladeiras (6%) e aparelhos de ar-condicionado (18,2%).

Dezenas de siderúrgicas na Província de Hebei, vizinha de Pequim, reduziram de 20% a 70% suas produções de ferro. Várias fecharam as portas neste mês. Muitas compraram ferro com o preço recorde de junho (US$ 870 por tonelada), que já caiu 40% em média.

A queda é tão vertiginosa como o crescimento nos últimos anos -a China produz 40% do aço do mundo e consome 33% de toda a produção do planeta. Produção e demanda duplicaram entre 2000 e 2007.

Dezenas de siderúrgicas, a maioria estatais, foram abertas nos últimos anos e agora brecaram a produção, que caiu 7% em setembro em relação ao mesmo mês no ano passado, e deve cair 11% em novembro.

"Brasil e China deveriam chegar a um acordo. Os dois precisam um do outro. Empresas como a Baosteel precisam importar minério de ferro do Brasil para ajustar a taxa de seu material", diz Hu Kai.

Apenas de 20% a 31% do minério extraído na China é ferro, o que faz com que a extração seja mais cara e de menor qualidade que a do Brasil, onde o minério pode chegar a 67%/68%.

A batalha das empresas chinesas com a Vale se tornou pública em setembro, quando o secretário-geral da Associação de Ferro e Aço da China, Shan Shanghua, disse à revista de negócios "Caijing" que a Vale "tinha perdido a oportunidade de conversar com a China sobre as exportações do próximo ano".

Shan acusou a Vale de ter paralisado o embarque do minério em navios chineses, resultando em dramáticas perdas a vários navios chineses atracados no Brasil. Procurada, a Vale não se manifestou.

Agronegócio

a) Governo pretende acelerar desoneração do agronegócio

De olho no efeito da crise internacional sobre as exportações, o governo vai acelerar a inclusão do agronegócio no regime especial de desoneração, o chamado "drawback verde-amarelo", que poderá reduzir os custos de insumos do setor, especialmente ração, e melhorar a competitividade das vendas externas.

A medida em estudo permitirá que os Exportadores comprem milho, farelo de soja, complementos vitamínicos, entre outros, no mercado interno e tenham crédito do PIS/ Cofins, contribuições que financiam a seguridade social, e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Na prática, o "drawback" funcionará como uma desoneração desses tributos.

Um dos maiores beneficiados pela medida será o setor de aves, em que o benefício chega a 9,5%, de acordo com cálculos da Abef (Associação Brasileira de Exportadores de Frango). A venda de suínos e carne também poderia ser beneficiada com a medida do governo.

O sistema que permite a compra de insumos no mercado interno com o abatimento de impostos já está em operação desde o início de outubro para o setor industrial. Até então, só havia benefício para os insumos importados e que fossem usados na fabricação de produtos exportados. O agronégocio não foi incluído no chamado "drawback verde-amarelo" porque o governo considera necessária uma mudança na legislação. A lei diz que, para obter o benefício fiscal, os produtos usados na fabricação têm que ser incorporados ao que é exportado.

A área jurídica entende que, no caso do agronegócio, a incorporação não é diretamente caracterizada, como no caso da indústria.

A mudança tem apoio dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. As negociações para a desoneração ao agronegócio também já começaram com a Receita Federal. O governo deve pegar carona numa Medida Provisória e incluir um texto menos específico.

"Nesse momento de crise, [a desoneração] torna-se extremamente significativa", afirma o presidente da Abef, Francisco Turra, que já foi ministro da Agricultura.

Para o governo, a medida é vista como complementar aos esforços para não deixar que as exportações caiam num cenário de desaquecimento da economia mundial. A retirada do imposto reduz o custo dos produtores e aumenta a competitividade dos produtos brasileiros no exterior.

Segundo Turra, as exportações de frango ainda não sofreram reduções no volume, mas já há pressão crescente dos compradores por reduções de preço e aumentos nos prazos de pagamentos. Em dois dos três principais mercados para o frango brasileiro -Rússia e Japão- já há sinais de redução nos pedidos. As compras nos países do Oriente Médio ainda estão robustas. Hoje, 35% da produção nacional de frango é exportada.

Além da nova desoneração, já foram liberados recursos extras para compensar a queda de crédito aos agricultores. Desde setembro, quando a crise financeira piorou, o Banco do Brasil antecipou o uso de R$ 5 bilhões que seriam liberados na próxima safra e o CMN (Conselho Monetário Nacional) autorizou o repasse extra de R$ 5,5 bilhões ao setor neste ano. Além disso, os agricultores que renegociaram suas dívidas tiveram sua classificação de risco para novos empréstimos melhorada, o que facilita novos financiamentos.

b) Dólar valorizado

Os preços futuros do açúcar fecharam em queda na quinta-feira, pressionados pela valorização do dólar sobre outras moedas estrangeiras, segundo analistas ouvidos pela agência Bloomberg. Na bolsa de Nova York, os contratos para março fecharam a 12,11 centavos de dólar por libra-peso, com recuo de 23 pontos. Na bolsa de Londres, os contratos março encerraram o pregão a US$ 335,90 a tonelada, com baixa de US$ 3,10. No mercado paulista, a saca de 50 quilos fechou a R$ 30,94, segundo o índice Cepea/Esalq. As usinas de São Paulo deverão colher 387,5 milhões de toneladas de cana, 18,3% a mais sobre a safra passada, de 327,7 milhões de toneladas. A área em produção está em 4,5 milhões de hectares e outros 727 mil hectares referem-se a áreas novas.

c) Commodities seguem na contramão do dólar

A persistente turbulência nos mercados financeiros globais e as incertezas sobre a extensão de uma desaceleração econômica que já deixa marcas em todos os continentes voltaram a derrubar os preços das principais commodities agrícolas negociadas no mercado internacional em outubro. Cálculos do Valor Data baseados nos preços médios mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados nas bolsas de Chicago e Nova York apontam que, neste universo de oito produtos, o que recuou menos em relação à média de setembro foi o suco de laranja. E a queda foi forte, superior a 13%, em um ambiente de extrema volatilidade diária que marcou também os demais mercados.

Pouco à vontade para previsões, analistas consultados pelo Valor foram quase unânimes em apontar o dólar como a referência - em uma relação inversamente proporcional - a ser seguida na tentativa de antever um novo patamar de preços para as commodities, inclusive petróleo e metais. Em outubro o dólar se valorizou em relação a outras moedas, como o euro.

"Outubro foi um dos piores meses da história. A saída dos index funds [fundos de índices] entre julho e o mês passado representou toda a compra de posições desses mesmos fundos entre janeiro de 2006 e julho deste ano", afirmou Michael McDougall, diretor da corretora Newedge baseado em Nova York.

Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo, está entre os que acreditam que o dólar deve oscilar menos em novembro e em torno do eixo atual. Se isso de fato acontecer, ele espera que os grãos negociados em Chicago também permaneçam mais ou menos no nível de hoje, um pouco acima do patamar observado no início do mês.

Conforme Eduardo Reinaldo Sarmento, analista da Safras&Mercado em Curitiba, é quase impossível realizar posicionamentos de longo prazo no mercado. Ele acredita que a especulação continuará a dar o tom em novembro. "É preciso recuperar a confiança, e para alguns especialistas isso pode demorar mais de um ano", diz. Enquanto isso, os fundamentos seguirão relegados a segundo plano.

Foi o que aconteceu com o milho em Chicago em outubro. Até quinta-feira (dia 30), a cotação média do grão foi a que mais caiu em relação à média do mês anterior entre as oito commodities pesquisadas pelo Valor Data, e isso apesar de o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) ter reduzido sua estimativa para a área plantada no país. Com a desvalorização de 22,61%, o preço médio mensal é o menor desde novembro de 2007.

Houve a mesma revisão extemporânea para a soja, e a cotação média do grão diminuiu 21,18% em outubro, descendo ao menor nível desde agosto de 2007. Para analistas, o fato de o USDA ter divulgado novas estimativas para a área plantada de grãos americana nesta semana foi uma clara tentativa de fortalecer o papel dos fundamentos na formação de preços. Não funcionou sequer no dia da divulgação, a última terça-feira, quando houve forte valorização do dólar no mercado internacional.

O trigo acompanhou soja e milho e sua cotação média mensal perdeu 19,78% de seu valor até o dia 30, recuando ao menor patamar desde junho do ano passado.

Em Nova York, o algodão, cujo mercado sempre está atento aos grãos em Chicago, em virtude da disputa por áreas de plantio nos EUA, seguiu a curva e também tombou. Mas com uma diferença importante: ao contrário de milho, trigo e soja, o algodão não é gênero alimentício de primeira necessidade e o temor de uma desaceleração econômica mais forte e longa deteriora mais facilmente os preços.

Fernando Martins, também da Newedge, confirma a tese citando as deprimidas exportações americanas. A cotação média do algodão diminuiu 15,07% em relação à média de setembro e é a menor desde o mês de maio de 2007.

O cenário não é diferente para cacau, açúcar, café e suco de laranja, as outras "soft commodities" nova-iorquinas. São mercados com menor presença de grandes fundos de investimentos e mais vinculados aos fundamentos - e estes, do lado da demanda, não andam inspirando muita confiança.

As incertezas provocaram quedas de 15,54% do preço médio do cacau, para o menor nível desde janeiro passado, de 14,89% para o café, que bateu no menor patamar desde dezembro de 2007, de 13,8% para o café, que desceu a julho de 2007, e de 13,11% para o suco de laranja, que voltou a janeiro de 2005.

Em alguns mercados, a pressão das incertezas que cercam a demanda pode ser medida pela pouca influência das previsões para a oferta. O açúcar, por exemplo, tem pela frente oferta global restrita, uma vez que países como a Índia, importante no mercado, devem passar de exportador a importador.

O café dá outra lição. O Brasil colherá, em 2009, uma safra bem menor, devido à bianualidade de seu ciclo de produção. A safra cheia foi colhida, já era hora de o mercado olhar para o ano que vem e isso não tem feito a menor diferença.

Mercosul

a) Mercosul não fecha pacto para frear protecionismo

O Mercosul e seus associados - Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru - não conseguiram fechar o pacto de não adoção de medidas protecionistas entre si, objetivo em que se empenhou especialmente o governo brasileiro. Apesar de concordarem que o aprofundamento da integração regional é a melhor receita para enfrentar a crise internacional, as autoridades dos dez países reunidos no Palácio Itamaraty não se comprometeram com o banimento do uso de barreiras para corrigir possíveis desequilíbrios no comércio regional.

Todos os países aceitaram que a fórmula para evitar que o mercado sul-americano seja invadido por exportações asiáticas, antes destinadas à União Européia e aos EUA, é o resgate das negociações do acordo sobre a aplicação de salvaguardas e medidas de defesa comercial. Trata-se de uma iniciativa sem consenso, capaz de detonar uma crise no bloco.

"O aprofundamento da integração é o caminho para se enfrentar a crise", disse Jorge Taiana, ministro das Relações Exteriores da Argentina, o primeiro país da região a restringir importações e a indicar que pode barrar produtos brasileiros. "A resposta à crise não é o protecionismo, de forma geral, sobretudo no Mercosul. A resposta é mais integração. Temos de estar muito vigilantes", disse o chanceler Celso Amorim.

A Argentina trouxe para o debate velhas aspirações. Pediu aos sócios do Mercosul a elevação da Tarifa Externa Comum (TEC), que é teoricamente aplicada pelos quatro países originais a setores mais vulneráveis à crise, como o têxtil e o moveleiro, e a criação de um mecanismo de monitoramento do comércio entre os sócios do Mercosul. Solicitou também a prorrogação da aplicação da tarifa zero sobre as importações de bens de capital.

Taiana foi além e, para contrariar o espírito da reunião, deixou claro que o governo argentino aplicará salvaguardas no comércio com o Brasil. Mas disse que não quer ser qualificado como protecionista.

A Venezuela propôs a criação de um sistema financeiro do Sul. "É a resposta à crise de hegemonia financeira do dólar", disse o chanceler Nicolás Maduro. O sistema seria constituído por uma moeda comum latino-americana e pela concretização do sempre protelado Banco do Sul. Também faria parte desse sistema financeiro alternativo a criação de um fundo de reserva da América do Sul, integrado por 10% a 20% das reservas internacionais dos países da região.

b) Mercosul decide ampliar "desdolarização"

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) defendeu a criação de um mecanismo comum da América do Sul contra a ameaça de "dumping", caso países como a China venham a despejar no continente o excedente de sua produção rejeitado em outras partes do mundo por causa da crise e da recessão internacional.

Em reunião realizada no Itamaraty, ministros de economia e do exterior e presidentes de bancos centrais decidiram desdolarizar as transações comerciais entre os países do Mercosul e de seus associados, aplicando para toda a região um processo já iniciado entre o Brasil e a Argentina. Também decidiram acelerar a criação do Banco do Sul, que foi proposto pela Venezuela para criar reservas para ajudar países da região em dificuldade.

"Não acredito que haja "dumping" [exportação a preços abaixo dos preços internos], mas, se houver, saberemos responder. Poderemos usar mecanismos de defesa comercial em conjunto", disse Amorim, depois de uma reunião com ministros e representantes de 12 países, para discutir a crise financeira.

Ele, porém, ressalvou que não há um mecanismo comum, que teria de ser criado com a "coordenação dos modelos de cada país". Ressalvou, ainda, que a via de saída da crise não é o protecionismo: "Entendemos que a resposta é mais integração e mais comércio, menos subsídio e menos distorção". Na reunião, também foi defendida maior integração financeira (de serviços bancários, de capitais e de seguro) e o fortalecimento de organismos internacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Não houve acordo em relação à proposta da Argentina de aumentar a TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul para produtos como têxteis, móveis e confecções. Isso será tema de discussão bilateral com o Brasil, antes de ser ampliada para os demais países do Mercosul.

Na opinião do ministro das Finanças da Venezuela, Ali Rodriguez, a crise financeira caracteriza um "crime contra a humanidade", pois vai resultar em "1 bilhão de pobres a mais no mundo". O país propôs, e o documento final mencionou, mas não como decisão, convocar uma reunião de chefes de Estado na ONU para discutir punições contra os "especuladores", a quem culpa pela crise. De outro lado, o Brasil contrapôs a convocação do Conselho Econômico e Social da ONU, para discutir, por exemplo, uma reforma da arquitetura financeira internacional. Também foi discutida uma comissão de monitoramento das medidas que cada país tomar.

O chanceler do Chile, Alejandro Foxley, sugeriu que os países da região proponham ao G-8 (grupo dos países mais desenvolvidos, mais a Rússia) que depositem recursos no BID e na CAF (Comissão Andina de Fomento) e, assim, criem uma reserva para ajudar os países mais prejudicados pela crise. Participaram da reunião de ontem: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Peru, Equador, Colômbia, Chile, Bolívia, Guiana e Suriname.

c) Argentina tenta conter disparada do dólar no país

O Banco Central argentino colocou à venda US$ 1 bilhão, depois que o dólar disparou oito centavos, no início do dia, chegando a valer 3,44 pesos, maior cotação desde dezembro de 2002. Com a forte intervenção do BC, a moeda americana fechou a 3,39 pesos. Apesar da constante postura reguladora do BC, e de pouco da oferta ter sido efetivamente vendida, a Argentina pena para conter a alta do dólar e acalmar o mercado cambial diante da forte demanda pela moeda.

A especulação cresceu após o anúncio, na semana passada, de que o governo deve estatizar os fundos de previdência privada, segundo a oposição, para pagar os vencimentos da dívida.

Nas últimas semanas, o dólar subiu 31 centavos, 15 deles desde o polêmico anúncio da estatização. Para dar mais liquidez ao mercado, o governo determinou que os fundos de pensão privados devem repatriar os investimentos no exterior, boa parte deles no Brasil. Diante da crise, os argentinos temem que seu dinheiro seja confiscado como em 2001 e 2002. Logo, retiram seu dinheiro dos bancos e compram dólares. No terceiro trimestre do ano, US$ 5 bilhões saíram do sistema.

Mas a alta do dólar é boa notícia para os setores industrial e agrícola. Com esse câmbio, os empresários locais ganham competitividade, embora estejam preocupados com a desvalorização do real e uma possível invasão de produtos brasileiros.

Já para os produtores rurais, que protagonizaram uma crise de quatro meses contra o governo Cristina, um câmbio mais alto aumentaria o valor recebido pelas exportações de commodities, cujos preços vêm caindo no mercado internacional.

d) Argentina vai barrar 1.200 produtos

O secretário argentino de Indústria, Fernando Fraguío, assinou resolução que complicará a entrada de 1.200 produtos importados no país. Serão aplicados nesses produtos licenças automáticas, que atrasam a entrada de um produto no país por período de 48 a 72 horas. A lista, que inclui produtos importados dos sócios do Mercosul, inclui calçados, brinquedos, fios, eletrônicos, bicicletas e vestimentas, entre outros. O governo está aplicando os obstáculos burocráticos alfandegários a pedido do empresariado argentino, que teme uma "avalanche" de produtos asiáticos e brasileiros que possam "arrasar" a indústria nacional.

Plano Internacional

a) Crise afeta mineração e gás na Bolívia

A crise financeira mundial já provocou a paralisação do trabalho de 10 mil mineiros na Bolívia e deve gerar estragos na exportação de gás natural e nas remessas enviadas por imigrantes, as principais fontes de divisas do país mais pobre da América do Sul.

Além das agruras de cunho econômico, ainda terá de enfrentar o iminente fim das preferências tarifárias nas exportações aos Estados Unidos.

O tema mais urgente é o da mineração, o zinco, cujos preços despencaram em mais da metade em poucas semanas. Na sexta-feira, Morales decretou estado de emergência na atividade, criando um fundo de US$ 5 milhões para financiar os pequenos produtores. Na quinta, a estatal Corporação Mineira da Bolívia informou que 10 mil dos 33 mil trabalhadores do setor já paralisaram o trabalho no altiplano.

Os ingressos vindos dos três minérios mais importantes para a Bolívia -zinco, prata e estanho- cresceram 30% no ano passado, chegando a US$ 1,39 bilhão -um terço das exportações, segundo dados oficiais.

O bom resultado não deve se repetir neste ano. No caso do zinco, o segundo produto boliviano mais exportado depois do gás natural, o preço chegou a US$ 1,51 por libra fina no ano passado, mas fechou a apenas US$ 0,48 na sexta-feira.

A médio prazo, a principal preocupação é o preço do gás vendido ao Brasil e Argentina, a principal fonte de recursos do Estado boliviano. O reajuste trimestral é calculado, em parte, pelo preço do petróleo.

Uma estimativa do especialista em gás Carlos Miranda baseado num petróleo a US$ 50 o barril prevê que o preço cairá a cerca de metade dos atuais US$ 8,34 por milhão de BTU (British Termal Unit, medida de energia) a partir de abril. Com isso, diz, a arrecadação do ano que vem cairá da previsão oficial de US$ 2 bilhões para cerca de US$ 1,35 bilhão.

Já a terceira fonte de entrada de divisas, as remessas dos cerca de 2,5 milhões de bolivianos no exterior, que neste ano devem chegar a US$ 1 bilhão, tende a diminuir devido à desaceleração das economias americana, espanhola e argentina.

"Isso afetará tanto a entrada de dinheiro quanto a oferta de trabalho. Muita gente deverá voltar à Bolívia, pressionando o mercado de trabalho interno", diz o economista Gonzalo Chávez, da Universidade Católica Boliviana, em La Paz.

Finalmente, a Bolívia provavelmente perderá os incentivos fiscais para a exportação de produtos como móveis, têxteis e jóias aos Estados Unidos depois que Morales expulsou o embaixador dos EUA e encerrou a ajuda americana no combate à cocaína na região do Chapare. A medida precisa ser ratificada pelo Congresso e pode afetar até 20 mil empregos.

"É um impacto importante pela quantidade de empregos que gera", disse Chávez. "A Bolívia é um país muito pouco industrializado, e as fábricas que exportam aos EUA estão em El Alto (grande La Paz), uma das regiões mais pobres do país."

b) Raúl Castro deve vir ao Brasil para cúpula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidará o dirigente cubano Raúl Castro para vir ao Brasil na última quinzena do ano. Castro, 77, deverá participar da Cúpula América Latina-Caribe sobre Integração e Desenvolvimento, prevista para ocorrer nos dias 16 e 17 de dezembro, em Salvador (BA). Será a primeira viagem do general cubano ao exterior desde que assumiu oficialmente a Presidência de Cuba em fevereiro, substituindo o irmão Fidel, 82, que governou a ilha por 49 anos.

O convite, anunciado ontem pelo Planalto, será formalizado na visita de Lula a Havana. Os dois presidentes terão uma reunião de trabalho para acertar detalhes da cooperação bilateral.

Raúl fará a Lula uma exposição dos danos causados pela temporada de furacões em agosto e agradecerá a ajuda humanitária enviada pelo Brasil.

É provável que Lula se encontre com Fidel reservadamente, o que só será confirmado durante a visita.

Na agenda do presidente brasileiro também está prevista a assinatura de um convênio de prospecção de petróleo entre a Petrobras e a Cupet (a estatal cubana) e a inauguração do escritório da Apex (Agência de Promoção de Exportações), que organiza comitiva de 24 empresas -das áreas de alimentos e bens de capital- para participação na 26ª Feira Internacional de Havana, de 3 a 8 de novembro.

A presença de Lula em Cuba é um importante sinal político para Raúl Castro, que enfrenta o pior momento de sua gestão, acossado pela crise financeira mundial que já afeta a obtenção de crédito e o envio das remessas de cubanos que estão vivendo no exterior. Na última visita que fez a Havana, o presidente Lula anunciou nova linha de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de US$ 150 milhões, para a compra de alimentos. Estuda-se agora ampliar esse limite para US$ 600 milhões, incluindo serviços e compra de maquinário.

Antes de Havana, Lula passará em El Salvador para assistir à Cúpula Ibero-americana. A crise financeira e a questão da imigração serão os principais temas de debate entre os chefes de Estado e governo.

Paralelamente, o presidente brasileiro terá reuniões bilaterais. Lula terá um café da manhã de trabalho com o boliviano Evo Morales e se reunirá reservadamente com o presidente do governo espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero.

c) Preocupada, China anuncia 2º corte da taxa no mês

O Banco Central chinês anunciou um novo corte de 0,27 pontos percentuais na taxa de juros. A taxa de empréstimos para um ano cai hoje de 6,93% para 6,66%.

É o segundo corte em menos de um mês, o que confirma a preocupação do governo chinês com a desaceleração de sua economia e com a crise global.

O corte anterior foi em 8 de outubro, no mesmo valor. Em setembro, logo após o colapso do banco Lehman Brothers, o BC chinês cortou 0,25 ponto.

"Reflete a preocupação do governo no esfriamento da economia e outros problemas domésticos, além do aprofundamento da crise de crédito mundial", disse a economista Tang Min, vice-secretária da Fundação de Pesquisa em Desenvolvimento da China, à agência estatal Xinhua. O PIB chinês cresceu 9,9% entre janeiro e setembro deste ano em relação ao ano passado, 2,3 pontos percentuais a menos que no mesmo período de 2007. Por conta da menor demanda nos principais mercados da China (Europa e EUA) e da crise imobiliária, o PIB chinês cresceu 9% no último trimestre -pela primeira vez em cinco anos, ficou abaixo de 10%.

Projeções de bancos privados apontam que a economia chinesa crescerá 7,9% em 2009, o pior número desde 2000, ainda que seja a melhor das previsões de crescimento entre as maiores economias do mundo para o ano que vem.

Tang Min afirmou, ainda, que a medida também visa reconstruir a confiança do público, após sucessivas quedas nas bolsas de Xangai e Hong Kong, e na crise do setor imobiliário.

Em 2008, a Bolsa de Xangai chegou a cair 66%.

A crise afeta os três setores que mais geram empregos na China - campo, exportações e construção civil.

O Centro de Pesquisa em Desenvolvimento do Conselho de Estado prevê que a renda dos agricultores não cresça mais de 7% em 2008, dois pontos abaixo do objetivo do governo, graças à queda nos preços de produtos agrícolas.

Cerca de 10 mil fábricas têxteis e de brinquedos para exportação fecharam nos primeiros nove meses deste ano. A venda de apartamentos caiu entre 50% e 60% nas três maiores cidades chinesas no primeiro semestre deste ano.

Na semana passada, a China anunciou uma série de políticas para reanimar a venda de imóveis, como a isenção de taxas e a redução de depósitos hipotecários. As novas medidas reduzem de 30% para 20% a exigência de depósito inicial para a obtenção de créditos hipotecários para quem quiser comprar o primeiro imóvel.

Os bancos só podem cobrar 70% da taxa de juros padrão nesses créditos. Quem comprar a primeira casa própria também tem o imposto de transação imobiliária reduzido dos 3% a 5% atuais a 1%, se o imóvel for menor que 90 m2.

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