10/03/2015
PLANO INCLINADO
Rubens Antonio Barbosa

Como já é evidente, a desorganização da economia nos últimos quarto anos é responsável pela drástica queda do crescimento, pela alta da inflação e pela crise em alguns dos principais setores industriais. Para tentar controlar os prejuízos para o pais, a presidente Dilma, em uma manobra tática pensando no futuro do PT em 2018, sem alternativa, decidiu recorrer a um economista ortodoxo que está aplicando de forma mais radical políticas que a oposição estava propondo durante a campanha eleitoral e com isso recuperar a estabilidade econômica nos próximos anos.

No discurso de posse, Joaquim Levy fez abertas criticas ao patrimonialismo de estado indicando a intenção de acabar com o apoio do BNDES, Banco do Brasil e CEF a empresas estatais com problemas e a empresas privadas próximas do governo. Nas primeiras manifestações publicas, o novo Ministro da Economia deixou claro que, entre outras medidas, um forte ajuste fiscal deveria ser feito para reduzir os gastos públicos e para por fim a permanente presença dos bancos públicos em suporte aos grandes projetos de infraestrutura do governo, com problemas de gestão e com despesas desproporcionais, inclusive algumas suspeitas de “mal feitos”, no dizer presidencial.

O dano sistêmico consequência das necessárias medidas de ajuste combinado com a crise financeira da Petrobrás derivada da má gestão e da corrupção desenfreada está chegando com grande força aos setores de infraestrutura, indústria automobilística, petróleo e gás e defesa contagiando a economia com um todo.

Na área de óleo e gás, as consequências em cadeia são maiores pelo peso da Petrobras na economia e pelo efeito multiplicador em outros setores. A empresa representa cerca de 2% do PIB e 10% do investimento total. O corte de quase 30% do orçamente de US$220 bi no período 2014/18 pelas restrições de credito, poderá implicar em uma queda de 15% nos investimentos de infraestrutura no país e já estão tendo forte impacto econômico, social e politico. A suspensão de projetos, que representam 2,3% do PIB, vai afetar um terço dos investimentos da indústria, inclusive a naval. O não pagamento de contratos em andamento - muitos sendo renegociados - e a suspensão de obras estão gerando desemprego em massa e problemas de sobrevivência de muitas empresas em toda a cadeia produtiva. A Petrobras é a empresa privada mais endividada no mundo (mais de R$ 330 bilhões), sendo que os bancos brasileiros são credores de RS31 bilhões. As metas de produção de petróleo nos próximos anos e a exploração do pré-sal e o regime de exploração (partilha) estão ameaçadas. O impacto sistêmico poderá acarretar uma queda de 1,5% no PIB, segundo cálculos feitos por consultorias nacionais. Tudo isso, sem falar nos prejuízos para a empresa com as multas que certamente a SEC americana vai impor e os efeitos da suspensão do “investment grade” e com linhas de crédito mais caras e difíceis e das demandas de indenizações feitas por escritórios de advocacia representando milhares de acionistas da companhia.

Na infraestrutura, as empresas construtoras envolvidas na operação lava a Jato estão com crescentes problemas de liquidez e foram responsáveis por 10% do desemprego em janeiro. A paralização de obras públicas contratadas e o não pagamento pelo governo já geraram demissões em massa. Segundo estimativas de especialistas, dezenas de milhares de empregos foram perdidos e outro tanto ocorrerá no corrente ano na área de construção pesada. Cinco por cento da população está ligada direta ou indiretamente a esses projetos. A isso, acrescente-se os reflexos no mercado financeiro. Como não conseguem rolar suas dividas, com problemas de liquidez, as empresas estão demitindo e começam a suspender ou mesmo devolver as obras devido ao não pagamento pelo governo. Estima-se que as dez maiores empresas construtoras tenham pelo menos RS$130 bilhões de dívidas no mercado financeiro e de capitais.

No setor automotriz, a forte queda das vendas no mercado interno (27%) e a redução das exportações para a Argentina fizeram com que as montadoras sofressem um aperto financeiro e demitissem 12,4 mil trabalhadores em 2014, além de gerar prejuízos e problemas em toda a cadeia produtiva. Com a indústria em queda as demissões devem aumentar, como já está ocorrendo nas fábricas de caminhões. Com projeções de queda entre 5 a 10% no mercado de veículos, pela restrição de crédito, maior endividamento das famílias, com a taxa de juros e inflação mais elevadas, a turbulência no setor deverá estender-se até 2016.

Na área de defesa, a paralização de projetos que envolvem a indústria nacional está provocando prejuízos e demissões. A Avibrás, com uma carteira de encomendas de US2,4 bilhões não tem recursos para comprar matéria prima e sem aumentar seu limite de endividamento junto ao Banco do Brasil se verá em serias dificuldades. A Helibrás anunciou um plano de demissão voluntária e a Embraer teve prejuízo porque seu cash flow ficou afetado por compromissos que o governo não honrou. Os principais programas estratégicos foram incluídos no PAC, o que não impediu que os pagamentos da Base Industrial de Defesa tenham sido suspensos. O cancelamento do PAC agrava ainda mais o problema.

O duro programa de ajuste da economia é essencial para reorganizar e estabilizar a economia e deve ser apoiado. O custo, contudo, não deve recair apenas sobre a sociedade. Deve ser compartilhado pelo governo com a redução significativa dos gastos públicos. Nesse contexto, é muito importante não se perder a dimensão do crescimento econômico. O risco que corremos hoje é de a dose para combater a doença, matar o paciente.

Rubens Barbosa, Presidente do Conselho de Comercio Exterior da FIESP

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